O que é musicoterapia?

CONCERTISTA: O que é a musicoterapia e quais as principais diferenças entre a formação desse profissional e a do licenciado em música?
Rosângela Lambert: A Musicoterapia é uma ciência que se ocupa do estudo e da investigação do complexo som/ser humano e do uso de experiências sonoro-musicais para o desenvolvimento de potenciais, o restabelecimento de funções cognitivas, físicas, emocionais, sociais ou espirituais, buscando a melhoria na qualidade de vida de seus assistidos. Classifica-se, portanto, como uma área da Saúde.

Sua natureza é inter e multidisciplinar por ter em seu corpo teórico influências e fundamentações, além da própria música, de outras áreas de conhecimento como, por exemplo, a Psicologia, a Educação, a Medicina e a Filosofia. No Brasil, musicoterapeuta é o profissional com formação superior (bacharel ou especialista) devidamente cadastrado em seu órgão de representação. Ele pode atuar nas áreas clínica, educacional, social e organizacional, sempre com objetivos terapêuticos.

Já o profissional licenciado em Música atua na área educacional e busca promover conhecimentos acerca da linguagem musical, tendo, portanto, prioritariamente, objetivos pedagógicos. Embora as duas áreas utilizem como principal ferramenta o material sonoro e musical, não há dúvida de que seus objetivos não são congruentes.

CONCERTISTA: Em quais frentes de trabalho o musicoterapeuta pode exercer a profissão?
Rosângela Lambert: O musicoterapeuta pode atuar em diversas áreas e com todas as faixas etárias. O trabalho pode ter por objetivo o tratamento, a reabilitação, a prevenção e a promoção da saúde nos contextos clínico, educacional, social ou organizacional, como, por exemplo, atendimento a gestantes, bebês em UTI neonatal, crianças com déficit de atenção, autistas, jovens usuários de droga, funcionários de empresas ou idosos com demência, entre tantas outras possibilidades. O profissional pode ser autônomo ou atuar em hospitais, centros de reabilitação, clínicas, instituições para idosos, escolas, projetos sociais ou empresas.

CONCERTISTA: O conteúdo musical trabalhado pelo musicoterapeuta se difere substancialmente do educador musical?
Rosângela Lambert: Em Musicoterapia, o cliente ou o grupo é o ponto de partida. Desta forma, o conteúdo do trabalho dependerá de seu diagnóstico, levando-se em conta as necessidades, os contextos e as preferências musicais, quando possível ou aplicável. Importante lembrar que, para ser atendido e beneficiado em sessões de musicoterapia, o cliente não precisa saber música, cantar bem ou tocar um instrumento. O processo terapêutico será sistematizado por meio de experiências sonoro-musicais, como cantar, tocar, ouvir, expressar-se corporalmente, inventar canções ou explorar sonoridades, de forma livre, espontânea ou dirigida. Por outro lado, na educação musical, os conteúdos são pré-definidos e organizados segundo parâmetros curriculares e pedagógicos.

Em muitas situações, pode parecer nebulosa a diferença entre as práticas de um musicoterapeuta e de um educador musical, uma vez que, da mesma forma que um musicoterapeuta pode cantar e tocar instrumentos com seu cliente ou grupo, um educador musical pode cantar e tocar com seus alunos.

Portanto, mais do que o conteúdo em si, o que as diferencia são os objetivos do trabalho. Outro fator relevante é a relação que se estabelece entre terapeuta/cliente e professor/aluno, cujos papéis e responsabilidades têm aprofundamentos diferentes.

CONCERTISTA: Para você, quais habilidades são indispensáveis para quem deseja trabalhar como musicoterapeuta?
Rosângela Lambert: Terapeuta é aquele que fornece tratamento ou cuidado a alguém. Sendo assim, diria que, primeiramente, o mais importante para se tornar um musicoterapeuta é o desejo de ajudar as pessoas.

Além da formação que lhe confere a qualificação para atuar como musicoterapeuta, é necessário estudar constantemente sobre a música, seus usos, recursos e efeitos e buscar conhecer as necessidades de seus clientes, estudando as patologias, as condições, os contextos e as especificidades deles. Dedicação, empatia e flexibilidade também são indispensáveis.

CONCERTISTA: A área de musicoterapia está em expansão no país? Existem boas oportunidades de trabalho na área?
Rosângela Lambert: O uso da música como recurso terapêutico ou de cura é conhecido desde a Antiguidade, porém a Musicoterapia como ciência e profissão é relativamente nova, tendo seu início em meados da Segunda Guerra Mundial. É, pois, uma área em construção e vem crescendo no país e no mundo.

O Brasil oferece, em diversos estados, cursos de graduação e especialização. Como já mencionado, o musicoterapeuta pode atuar em diversas áreas e contextos e com todas as faixas etárias.

Ela está presente no Sistema Único de Saúde (SUS), dentro das Práticas Integrativas Complementares e também no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), além do setor privado, como clínicas, instituições, escolas e empresas. A profissão consta da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o código 2263-05. Há associações estaduais de Musicoterapia em diversas regiões do país e a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM), como representante dessas associações.

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